REVISTA (ISSN 1887-2859)
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nº 11 (2015).-PARAFITA, Alexandre: O engenheiro das pontes
Sempre obras imperfeitas, é certo, pois o dom da perfeição cabe a uma entidade que está acima dele, mas, ainda assim, obras úteis e necessárias para as comunidades que delas usufruem… são assim as pontes projetadas e construídas por este singular “engenheiro”.
Mas, afinal, que engenheiro é este, para quem um contrato é sempre coisa séria? Que universidade frequentou ele? Aqui bem perto, construiu a ponte da “Misarela”, no rio Rabagão; a de “Abreiro” no rio Tua; a ponte de “Vale de Telhas” sobre o Rabaçal; a ponte “Gamona” sobre o Sabor, em Mogadouro; e também a ponte de “Alpajares” sobre a ribeira do Mosteiro, em Freixo de Espada à Cinta; mais além, a ponte “Mem Guterres”, no rio Ave, em Póvoa do Lanhoso; a ponte dos “Galhardos” no rio Zêzere, em Teixoso; a ponte do “Alfusqueiro”, afluente do Águeda, em A-dos-Ferreiros; a ponte da “Aliviada” no rio Ovelha, em Amarante (por inveja a um outro “engenheiro”, o S. Gonçalo); a Ponte “Velha da Portagem”, sobre o rio Sever, em Marvão; a ponte do rio “Pavia” na direcção de Malarranha, em Mora; a ponte “d’Alcantra”, no Tejo, em Monsanto.
Mas do outro lado da fronteira, na Galiza, também construiu umas tantas: a ponte que dá acesso ao “mosteiro do Carboeiro”, em Silleda; a ponte “Pedriña” em Bande, Orense; a ponte dos “Padriños” no regueiro da Lomba em Vichocuntín; a “Pontedeume” em Andrade, na Corunha; a “Ponteboa” em Sobredo de Albarellos; a ponte de “Gatin” em Becerreá, Lugo; e muitas outras.
E pela Europa fora? Também por lá teve as suas empreitadas: a ponte “Corcunda” de Ardino, na Bulgária; a ponte de “Ceredigion”, Gales; a ponte “Valentre” em Cahors, França; a ponte da “Madalena” em Borgo, Itália; a ponte “Teufelsbrucke”, rio Reuss, na Suíça (pediu em troca a alma do primeiro que a atravessasse, mas o povo, esperto, fez passar um carneiro).
Em todas, sempre a mesmo contrato: a obra é justada para ser feita numa noite, a troco de uma alma. Entretanto, ouve-se um galo:
– Que galo é?
– O branco.
– Ande o canto!
Depois outro galo:
– Que galo é?
– O pinto.
– Ande o pico!
Por fim um terceiro:
– Que galo é?
– O preto.
– Pico quedo!
Azar do mestre-de-obras. Nascera o dia. A obra pára. Só lhe faltava uma pedra, mas contratos são contratos. E este “engenheiro” leva-os a sério.
Alexandre Parafita
Ilustração: desenhos de Fátima Buco
(do livro Diabos, Diabritos e outros Mafarricos, Texto Editores)