Actualizado en data 08/10/2024

rss
facebook
twitter
mouraGaliciaEncantada
mouraGaliciaEncantada

Seres míticos

CATEGORÍAS RELACIONADAS

A Fada do Soldón (Conto Fantástico)

® Adeala Figueroa

O nevoeiro começou a ascender desde o fundo do vale. Leves flocos de névoa galgavam póla montanha acima seguidos de unha massa muito mais espessa que se presentava ameaçadora aló no fundo do do vale,subindo desde o V que fazíam as montanhas para deixarem passar ao rio.

Seria este, o rio Soldom que, choutando e fervendo entre as pedras e os cachões, o que produzia tantas pingas de água que non podiam ficar presas na sua corrente e por isso escapavam cara o cimo do monte flutuando nas correntes de ar.

Sinda olhou a nuvem ascendente e franziu o gesto. Deveria de chegar á Cruz de Soldóm antes que o fizesse a névoa. Nom gostava andar por essas estradas de montanha com má visibilidade.

Poderia acontecer qualquer cousa entre aquelas cumes, e sobre de aquela estradinha apegada ao abismo pola que agora ia.

Mentres guiava o seu seiscentos, observava com apreensão as rachadas de humidade, mistura de névoa e orvalho que invadiam mais e mais o caminho.

Os faros davam apenas para enxergar o asfalto preto da estreita estrada, e ela conduzia com dificuldade que ia em aumento a cada passo.

Ontem na casa da Almerinda escutara contar o caso da mulher do Cruzeiro. A Fada do Sodom. Evaristo, oVizinho da Costinha tinha tropeçado com ela quando voltava para a sua casa . Era já entrada a noite- que de inverno a escuridade logo se bota em riba. O Evaristo levava um foco agarrado na mão, com que alumiava o caminho. Mas, com foco e tudo, estava escuro e via-se mal.

O pobre do homem sei que tropeçou e a lanterna escapou-lhe das mãos. Foi a rolos até que deu contra um corpo. A luz, que nascia do chão para onde o foco tinha ido a parar, deu para enxergar uma mulher sentada aos pés do Cruzeiro de Vite. A lâmpada alumiava desde abaixo, de maneira que a sua cara parecia mais a duma fantasma que de pessoa humana. A figura inteira era assustadora e sobrenatural. Segundo ele conta, a mulher soltou uma forte gargalhada, que sob a luz da lanterna e no meio da escuridão, parecera o laio desgarrado das ánimas do Purgatório. Evaristo fechou os olhos de instinto e polo medo que apanhou. Quando os voltara abrir a mulher tinha desaparecido. Somente ficava no chão o foco que alumiava o Cruzeiro que se desenhava sobre a névoa branca-escura. A luz da lâmpada disseminava-se em milheiros de pontinhos que se esparregiam entre as pinguinhas de névoa. A meio desta ficava o fuste de pedra e a imagem difusa da Paixão da Virge que tinha no colo a seu filho descido da Cruz entre as pregas dum manto rústico talhado na pedra.

Evaristo fiz o sinal da cruz e, por sim ou por não, rezou um Nosso Pai e mais um Ave Maria. Apanhou a sua lanterna do chão e foi, cheinho de medo, para casa. Quando lá chegou aterecido de frio e tremendo como um bimbio verde foi-se direto para o leito.

-Evaristo que tens? Perguntava a Filomena, sua mulher. Vou-te dar uma cunquinha de caldo e logo contas-me,que mais pareces um morto do que um vivo.

Mas Evaristo não respostou. Olhou para ela de olhar vácuo e de boca aberta. Dizia a Filomena que semelhava um parvinho que tivesse perdido o sentido.

Logo que tomou o caldinho quente, as cores voltaram-lhe pouco e pouco a cara e deu em falar, tatejando e atropeladamente:

-Era-che ela, Filo, Era-che ela.

-Quem?, meu hominho. De quem falas?

-Da Cuca da casa de Cimavila. Digo-che que che era ela.

-Como iria ser Evaristinho. Como ia ser. Ela morreu. Tu dixesches-mo. Que a deixarais estendida na erva, a beira do rego do Espinho. Ainda contaras-me que o Fuco de Valverde,para comprovar se estava morta, dera-lhe uma patada e que ela não remexeu.

-Mas eu não fui o que lhe disparou, Filomeninha, podes-me crer. Eu apenas ia com eles.

Contei-cho todinho aquela noite. Eu só entrara na taberna tomar um chato que fazia um frio que nem diola. Ali estavam o Fuco e mais o Agustim o da Xoana. Estavam já bêbedos quando foi que eu entrei. E riam e falavam a berros . Diziam que iam a caça. E eu perguntei que caça era essa que se fazia de noite.

-Imos caçar roxos. Ou roxas se não atoparmos outra cousa melhor. Sei que andam agachados no monte, mas nós ímo-los levantar do meio das tojeiras, que bem sabemos onde é que se escondem.

Eu olhava para outro lado, tentando dissimular, mas eles não me deixaram.

-Tens que vir. É pola causa. Imos limpar esta Terra de bandidos intelectuais . Elas são -che as piores . Meten-lhes tontarias na cabeça aos homens e depois são eles quem dão a cara. Mas elas são o demo.

-Venha, Evaristo não sejas covarde. Ou é que tu também és um roxo? Mal é de quem as faze, e pior de quem as consente. Se não vieres imos pensar que tu és um deles.

-Vou sim,Como não vou ir . A mim essas mulheres que se metem em políticas dão-me nojo. Como bem dizeis, há que acabar com elas- Isso foi o que eu respostei . Tinha-lhes medo, Filomena. Mas eu não fui quem disparou. Juro -cho. Eu dissimulei como pude. Traguei saliva ao ver como eles acorrentavam a Cuca, que estava acocorada entre os tojos, por detrás duma gesteira grande. Até, e que Deus me perdoe, semelhava que estava mijando , pola postura que tinha ( fora a i-alma).

-Acouga Venancio, acouga. Põe este tijolo quente na cama. A ver se assim entras em calor. Que ainda che vai dar uma apoplexia.

-Não posso acougar minha mulherinha. Não durmo desde aquele dia. E, agora a Cuca apareceu-se-me. Sentadinha aos pés do Cruzeiro. Mesmo semelhava que queria implorar o abrigo de Deus, ou que me acusava ante Ele com seu espírito. Ela vinha-me buscar. A Cuca vai-me levar como já levou ao Fuco e mais ao Agustin.

-Eles morreram. Sim, e que morte mais dura tiveram. O Fuco caiu pola montanha abaixo aos berros. Que dizem que gritava: Não me empurres alma do Demo! E foi dar coa cabeça contra uma pedra da beira do rio. Ali ficou. Mais teso que o Piapáxaro.

-E o Agustim parecido. Caiu de barriga contra a galheta de recolher o tojo que estava algo escondida entre a erva seca. Alguém deixaria assim num descuido. E ficou chantado nela. Berrava como um cocho, diziam quem o viu.

Agora toca-me a mim, minha Filomena. Mas eu não disparei. Eu só ia com eles, porque tive medo de que me caçassem também a mim coma se fosse um “roxo”.

-Mas, por em quanto, agora tu tranquiliza-te. Já estás na casa. Nada che pode acontecer. Vamos dormir. Já verás como amanhã vais ver tudo de melhor cor. Com a luz do dia tudo se acalma. Fica sossegado, meu hominho.

O Venancio adormeceu, mas nom depois de rebulir no leito sem parada. Até que acalmou. A sua mulher Filomena cuidou que tinha adormecido ,por fim. Mas na manhã seguinte o Venancio estava mais frio que as águas do rio em novembro e mais teso que os carambelos ou xarandões de gelo que penduravam das janelas.

Filomena, aquela noite, achegou-se até o Cruzeiro onde dizia seu homem que se lhe aparecera a Cuca. Deitou água benta e esfregou os chanços e parte do fuste. Ainda rezou ali de joelhos um rosário que dis-que ela era quem melhor o guiava dentre as mulheres da paroquia.

Que se saiba, a Filomena viveu por muitos anos e morreu de velha.

Esta estória contaram-lha á Sinda na taberna, perto da Cruz . Até lhe mostraram o Cruzeiro onde contam que a Cuca se tinha aparecido.

Mentres ia conduzindo, com muito cuidado e desejando chegar a sua casa quanto antes, não parava de pensar na velha do Cruzeiro .Aquele conto remoia-lhe na cabeça e, vela aí que numa volta do caminho o coche foi-se-lhe e foi dar na sanja. Olhou para onde a luz dos faros tropeçaram com um cruzeiro. Ali sentada estava uma figura que parecia de mulher. Com as pernas algo escarranchadas e a cabeça pousada entre as mãos. Os côvados fincados nos joelhos e a vista fixa no caminho.

Sinda teve que descer do veiculo para apreciar os danos. Olhou para a mulher que nem mexera, e interpelou-a:

-Poderia-me ajudar?, por favor.

A mulher virou a cabeça para um lado e para o outro em sinal negativo.

-Pois, daquela,muito obrigada. Por nada.

-Tens que virar e dar marcha para atrás. Não tens nenhum problema Isto dizendo a mulher fez o sinal da cruz.

A Sinda, sem saber porque, fiz também o sinal da cruz e obedeceu-na.

Entrou no coche e comprovou que, efetivamente, este marchava cara atrás, e funcionava perfeitamente. Virou a cara para o Cruzeiro, por lhe agradecer a aquela mulher, mas já não estava. Esfumara-se com a névoa.

A ela ajudara-lhe. Seria que não tinha contas pendentes. Sinda nunca mal lhe fizera a ninguém,polo menos que ela soubesse.

Sinda soube que a aquela mulher aparecida chamam-lhe a Fada do Soldom . Aparece, de preferência, nos dias de névoa. A crença popular é que somente ajuda as pessoas que não fazem mal a ninguém e, ainda também, a aquelas que não têm maus pensamentos contra ninguém.

Mas. Ai de aqueles que fizeram mal ou que pensarem em fazer! Se andarem na noite polos montes do Courel, tenham cuidado. A fada pode tanto ajudar como castigar.

A moraleja desta estoria é:

Não fazer mal nem desejar o mal de ninguém, pois, na Galiza há muitos cruzeiros. Em cada um pode haver uma Fada, ou Meiga. Que, se houver névoa, adoita a andar polos caminhos e sentar-se nos chanços do Cruzeiro. Ela pode ter figura de mulher, ou mesmo há quem diz que pode ser transparente, mas mantendo sua figura de mulher todavia.

Nota da autora

Este conto, menos adornado, contou-mo uma amiga de Monte Cubeiro. Como era que havia uma mulher que se aparecia pola noite nos Cruzeiros e que igual que aparecia desaparecia segundo fora fazer o bem ou o mal.

Eu creio que era Meiga ou Fada para ajudar a fazer justiça, quando a dos homens não chega.

Em Galiza disso sabemos muito. Precisamos dos seres mágicos para consolo dos pobres e dos perseguidos pela injustiças dos homens.


 


Comparte en.

Facebook Twitter Email

Imprimir.

PDF Online

Enviar comentario a este artigo: